Pacientes psiquiátricos “abraçam” o Palácio Rio Negro

Com as frases “Somos parte da sociedade” e “Lutamos por uma sociedade sem manicômios” impressas em girassóis de papelão, um grupo de cerca de 200 pacientes com transtornos mentais, familiares, profissionais da saúde e representantes de entidades sociais, caminharam, na manhã de ontem, da Praça da Polícia até a avenida Sete de Setembro para dar um abraço simbólico no Palácio Rio Negro. “Estamos chamando a atenção da sociedade para a mudança do modelo de assistência aos que sofrem de transtornos mentais no Estado”, disse o psiquiatra Rogelio Casado, coordenador do Programa de Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde (Susam).

Durante a caminhada, o grupo usava gritos de guerra em favor de uma nova assistência e de um novo olhar para os pacientes. “Queremos acabar com o preconceito, com a rejeição e com mitos como “uma vez louco sempre louco” e “lugar de doido é no hospício”, disse Rogelio.

O abraço também teve como objetivo mostrar que os pacientes com transtornos mentais podem ter um convício social normal e participar ativamente da vida social e produtiva. Por isso, por idéia dos próprios pacientes atendidos no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, foram doados alimentos para o Natal da Esperança, promovido pelo Centro de Desenvolvimento Humano (CDH). Os pacientes entregaram 100 quilos de arroz, feijão e farinha, que serão distribuídos a famílias carentes.

Azilene Alves Ancelmo, ex-estudante de jornalismo, que há cinco anos faz tratamento no Eduardo Ribeiro, comemorava o abraço e a doação, dizendo que mesmo humilde, a maioria dos pacientes entende que cada um pode dividir o pouco que tem. “As pessoas ainda têm muito preconceito. Muitos deixaram de ir à minha casa com medo da minha filha”, dizia Alice Alves, mãe da paciente.

Na área externa do Palácio Rio Negro, houve performances artísticas. Caracterizando um paciente internado, um dos funcionários do Hospital rasgou a bata que usava, dizendo que não é mais possível conviver com a exclusão social, que marcou gerações passadas.

O grupo de Música e do Coral Esperança, formados por pacientes e funcionários do hospital Eduardo Ribeiro apresentaram um longo repertório, intercalando música e mensagens associadas à nova ordem mundial de tratamento aos que sofrem transtornos psíquicos, ou seja, exclusão dos manicômios e substituição da rede tradicional por uma rede de atenção diária.