AM realiza primeiro transplante com órgão de doador falecido

Cerca de um mês depois de concluir a estrutura necessária para a captação de órgãos no Estado, o Governo do Amazonas anunciou nesta sexta-feira (8) a realização do primeiro transplante de rim utilizando órgão de doador falecido. O transplante foi realizado no Hospital Santa Júlia, unidade conveniada com o SUS, em um paciente de 39 anos, que há 18 anos precisava realizar hemodiálise três vezes por semana para continuar vivo. O doador foi um homem de 31 anos, mototaxista, que morreu nesta quinta-feira no Pronto Socorro João Lúcio, depois de sofrer um acidente de moto na BR 174, que liga Manaus a Presidente Figueiredo.

Em coletiva de Imprensa, no final da manhã, enquanto a cirurgia para o transplante estava sendo finalizada, o secretário de estado da Saúde, Wilson Alecrim, emocionado, agradeceu à família do doador que, segundo ele, receberá diretamente os agradecimentos do governador Omar Aziz. “Sem essas pessoas, solidárias no difícil momento do luto, não haveria transplante. Elas acabam de entrar para a história do Amazonas e fazem parte de um momento que por muitas vezes achamos que ainda estava muito longe e hoje se concretizou”.

O secretário disse que a partir de agora haverá muito mais rapidez no atendimento aos mais de 400 pacientes renais crônicos que aguardam por um transplante. Até o momento, o Estado realizava transplante de córneas e de rim intervivos (com órgão de pessoa viva, com compatibilidade genética com o paciente). “Com a captação de órgãos de doador falecido teremos um aumento significativo de transplantes e um aperfeiçoamento técnico e científico que trará melhoria de todos os serviços associados.
O secretário anunciou que os próximos passos do Estado serão a captação de múltiplos órgãos e a criação de novos serviços de transplante, com prioridade para os de fígado e, posteriormente, de coração. De acordo com o secretário os primeiros transplantes de fígado serão realizados dentro dos próximos seis meses. A Susam já está em articulação com hospitais nacionais de referência para a capacitação das equipes.

O transplante começou a ser realizado às 7h30 desta sexta-feira. A equipe de transplantadores, chefiada pelo médico Edson Sarkis, levou cerca de cinco horas para concluir o procedimento, inicialmente avaliado como um sucesso. “O paciente reagiu muito bem e agora será assistido com todos os cuidados”, informou o secretário. A alta não deve ocorrer antes de 72 horas e depois haverá acompanhamento periódico.

O clínico Álvaro Ianhez, que integra a equipe de transplantadores, disse que as taxas de sucesso do transplante renal são avaliadas por período. No primeiro ano é de 95% e em cinco anos é de 90%. Ele disse que as etapas mais difíceis são a captação, a abordagem à família e a preparação de todas as etapas para o procedimento final que é o transplante. “Além disso, precisamos manter a população informada e sensibilizada para a doação”.

Quatro beneficiados – Como foram doados os dois rins, além das córneas, outro transplante começou a ser feito por volta das 16 horas, beneficiando desta vez um paciente de 31 anos, há sete dependendo de hemodiálise. As duas córneas – tecido que pode ser conservado por até 14 dias – serão transplantadas na semana que vem.

A coordenadora estadual de Transplantes, Leny Passos, explicou que a identificação dos dois pacientes que receberam os rins obedeceu aos critérios de compatibilidade genética e prioridade, definidos pelo Ministério da Saúde. Da lista de 451 inscritos no Amazonas, oito dos que eram compatíveis com o doador foram selecionados como prioritários. Os dois primeiros foram chamados logo após a confirmação da doação e, depois de realizarem os exames pré-operatórios, foram considerados aptos para o transplante. Parte dos exames foi realizada no Hospital Santa Júlia e parte na Fundação Hemoam, onde está instalado o laboratório de HLA, responsável pela identificação genética.

Pronto-Socorros preparados para a captação de rins

A coordenadora estadual de Transplantes, Leny Passos, explica que a captação de rim já pode ser feita em qualquer uma das unidades de urgência e emergência da rede de saúde pública e privada. Essas unidades contam com Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott), responsáveis pelo contato com a Central Estadual de Transplantes diante do surgimento de uma possível doação.

A doação de órgãos, incluindo os rins, só pode ser feita a partir do diagnóstico de morte encefálica. “Esse diagnóstico é feito por profissionais habilitados e por meio de exame específico, o ecodoppler transcraneano“, explica a coordenadora. A partir da confirmação da morte, são realizados testes de sorologia no doador, para descartar doenças infecciosas que inviabilizariam o transplante. Ao mesmo tempo são feitos os testes de compatibilidade por meio de exame de HLA que, no Estado, são viabilizados por laboratório especializado, instalado na Fundação Hemoam.

Os doadores potenciais de órgãos são principalmente vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e trauma craniano, assistidos em Unidades de Terapia Intensiva de hospitais e pronto-socorros. A doação pode ser feita por pessoas com idade entre 0 e 60 anos e é preciso que o doador tenha boas condições físicas e nenhuma infecção.

Compatibilidade – O rim só é captado com a confirmação de compatibilidade com um dos pacientes inscritos para o transplante. Após a captação, o órgão retirado é transportado imediatamente para a unidade hospitalar onde será feito o transplante. No casos dos rins entre a captação e o transplante no paciente o tempo não pode ultrapassar as 24 horas. A identificação do paciente que irá receber o órgão obedece a compatibilidade genética e prioridades de atendimento definidas pelo Ministério da Saúde e que incluem idade e tempo de espera, dentre outros aspectos.

No Amazonas, os transplantes com órgão de doador falecido continuarão a ser feitos no Hospital Santa Júlia, unidade privada, conveniada com o SUS, onde já são feitos os transplantes renais com órgãos de doadores vivos. O Hospital realizou até o momento 169 procedimentos do tipo.

A Central Estadual de Transplantes está instalada na Fundação Hospital Adriano Jorge, na Cachoeirinha, onde já funciona o Banco de Olhos do Amazonas.

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Andréa Arruda – Francismar Lopes