Amazonas quer prevenir desnutrição

Com o objetivo de qualificar profissionais de saúde no atendimento a crianças desnutridas e organizar um fluxo de assistência na rede do Sistema Único de Saúde, a Coordenação de Alimentação de Nutrição da Secretaria de Estado da Saúde (Susam), abriu nesta segunda-feira o I Encontro de Educação Continuada em Nutrição. O evento é voltado para profissionais que trabalham no monitoramento, pesquisa, educação e planejamento na área de nutrição no Amazonas e também deverá ter como resultado a elaboração de um plano estadual de redução e controle da desnutrição no Estado.

De acordo com a coordenadora estadual de Alimentação e Nutrição, Ester Mourão, o encontro visa alertar os profissionais para a identificação, o tratamento e a prevenção da desnutrição. “O foco das preocupações está hoje na obesidade, mas a desnutrição ainda é um problema de saúde pública em todo o país”. Dados que estão sendo usados como referência para as discussões, como a Chamada Nutricional, realizada em 2006, mostram que 8,5% das crianças menores de até cinco anos que moram na capital são consideradas desnutridas pela relação peso e altura. No interior do Estado, o índice é de 11,5%.

Entre os fatores de risco para a desnutrição estão o baixo índice de aleitamento materno exclusivo, o consumo precoce de alimentos de baixo valor nutritivo, como os industrializados e os refrigerantes e a chamada “monotonia alimentar”, ou seja, repetição dos mesmos alimentos no cardápio diário.

Estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que o aleitamento exclusivo até os seis meses é uma realidade para apenas 39% das crianças brasileiras. O mesmo estudo aponta que 40% dos bebês nesta faixa etária consomem biscoitos recheados e que 12% recebem alimentos como macarrão instantâneo. “Há um descompasso que precisa ser corrigido urgentemente”, alerta a pediatra Silvana Benzecry, nutróloga do Instituto de Nutrologia do Amazonas e professora de Pediatria da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Ela cita a presença de altos teores de sal e gordura trans presentes nos alimentos industrializados, cada vez mais consumidos pelas crianças.

Silvana Benzecry destaca a necessidade de estabelecer as unidades de saúde de referência para o atendimento dos casos de desnutrição, assim como fortalecer as ações de atenção básica para a prevenção e controle da desnutrição.

Ao apresentar dados mundiais sobre a infância, o coordenador do escritório do Unicef em Manaus, Halim Girade, citou que a subnutrição está associada a 50% das mortes nas crianças de cinco anos em todo o mundo e que os problemas começam com o pré-natal. No Brasil, apenas 50% das mulheres completam as sete consultas consideradas ideais durante o período da gravidez e no Amazonas este índice cai para 26%. “No mundo 27 mil crianças morrem por dia, o que corresponde a queda de 200 boings sem nenhum sobrevivente”.

Até cinco anos não existem baixinhos

A professora da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas, Cora Luíza Araújo, uma das palestrantes convidadas pela Secretaria de Saúde para auxiliar as discussões sobre as propostas para redução da desnutrição no Estado, disse que até os cinco anos não há baixinhos. “As questões ambientais são primordiais para o desenvolvimento infantil. Apenas na adolescência as condições genéticas se sobrepõem às questões ambientais”, afirma. Segundo a professora, para atingir seu potencial genético de crescimento as crianças devem ter acesso, na primeira infância, a uma alimentação adequada e a um ambiente tranqüilo, higiênico e livre de fumo, entre outros fatores.

A pesquisadora do Inpa, Dionísia Nagahama, defendeu a inclusão de produtos regionais no cardápio local para reduzir a insegurança alimentar. Vários estudos apontam o teor calórico e nutritivo de frutos e peixes da Amazônia, que deveriam ser usados em larga escala.

Para a coordenadora estadual de Alimentação e Nutrição, Ester Mourão, o plano estadual de redução e controle da desnutrição no Estado deve ser implantado com a participação de diversos setores além da saúde. “O caráter multisetorial é primordial para que se alcance os resultados esperados”.
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