Tanques de piscicultura devem sofrer manejo ambiental para evitar malária

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) apresentaram ontem (30/05) o resultado de estudos voltados para o controle da malária em regiões onde estão instalados tanques de piscicultura. Os tanques são considerados ambientes ideais para o desenvolvimento das larvas do mosquito transmissor da doença (Anopheles darlingi) e por isso contribuem para o aumento da densidade dos mosquitos adultos e, consequentemente, para o crescimento dos casos de malária em Manaus.

O pesquisador Wanderly Tadei, doutor em Entomologia e um dos coordenadores do estudo, disse que as pesquisas apontaram para três medidas de controle simples e baratas que podem ser implementadas pelos empreendedores. Trata-se da combinação de limpeza da superfície das águas, ‘choque de cotas’ (redução e aumento do volume de água do tanque, evitando o acúmulo, nas margens, de material orgânico utilizado para a nutrição das larvas do mosquito) e aplicação regular de biolarvicida. “Executadas de forma integrada, as medidas têm uma efetividade alta e baixo custo”, garantiu Tadei.

A ‘receita’ foi apresentada para representantes do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Instituto de Desenvolvimento do Amazonas (Idam) e Secretaria de Pesca e Aqüicultura. “Estamos montando uma comissão para, a partir de agora, estudar as melhores formas de implantar a proposta”, explicou o diretor presidente da FVS, Evandro Melo. O objetivo, segundo ele, é que o licenciamento para a criação de peixes em tanques naturais e artificiais seja concedido mediante exigência de implantação do controle de riscos para malária, como já ocorre com os licenciamentos imobiliários. “Queremos que o plano de manejo e os custos desse plano sejam incluídos no projeto de financiamento”, disse.

Ele informou que a resolução 286 do Conama aponta para a obrigatoriedade de estudos de impacto para empreendimentos em área malarígena, com a execução de ações preventivas. “Vamos estabelecer a forma de instituir a medida na prática”.

Baixo custo e alta efetividade

Os custos para implantar as ações de controle dos mosquitos da malária em tanques de criação de peixes não serão altos. Segundo o pesquisador Wanderly Tadei, os estudos sugerem que a limpeza das margens e o choque de cotas sejam feitos regularmente, reduzindo a quantidade necessária de biolarvicida e limitando sua aplicação a até cerca de 20 centímetros da margem. “Com isso, precisaremos apenas de 40 gramas para cada 100 metros lineares, o que custa em torno de R$ 1,00”. A aplicação do biolarvicida deve ser feita a cada 20 dias e o choque de cotas, a cada sete dias.

Nos estudos do Inpa e FVS ficou demonstrada a existência de larvas do mosquito da malária em quase 100% dos tanques avaliados. Em um dos três tanques utilizados para o plano piloto do manejo, chegaram a ser coletados 9 mil mosquitos da malária em apenas uma noite. “O número de larvas e de mosquitos adultos é muito grande nesses ambientes”, disse Wanderli Tadei. As maiores concentrações de tanques estão no Tarumã e no Puraquequara, respectivamente nas zonas Oeste e Leste da capital.

Os tanques de piscicultura não seguem a sazonalidade da subida e descida dos rios e por isso têm as condições adequadas para a reprodução do mosquito da malária durante todo o ano. Tadei explicou que o manejo ambiental desses criatórios tem justamente o objetivo de tornar mais difícil o uso desses locais para o depósito e desenvolvimento das larvas.

Manejo deve reduzir malária entre 10% e 20%

O tratamento vai garantir que a quantidade de larvas nos tanques chegue a quase zero. A expectativa em relação à queda da malária, caso o controle seja feito nos cerca de 1,5 mil tanques existentes na capital, dos quais 700 já mapeados pela FVS, deve ser entre 10% e 20%, de acordo com o diretor do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS, Romeu Fialho.

Romeu destacou que o controle da malária na região precisa de ações multisetoriais. “Os fatores de risco estão fora da governabilidade da Saúde. Precisamos trabalhar em parceria”. Ele demonstrou a relação entre os casos de malária e a existência de tanques de criação de peixes. “Onde temos tanques os casos são mais elevados”.

“Reconhecemos que a criação de peixes é uma alternativa econômica muito importante para o estado. Mas precisamos evitar que tenham impacto direto na saúde”, disse o diretor presidente da FVS, Evandro Melo. Ele citou que a produção do pescado representava 25 mil toneladas no Estado, no ano de 1996. Em 2004, a produção havia saltado para 65 mil toneladas.

A diretora do setor de Pesca e Aqüicultura do Ipaam, Fátima Saraiva, disse que o órgão fará o possível para reduzir o impacto dos empreendimentos licenciados. “Vamos trabalhar juntos na implantação do manejo ambiental e na manutenção de condições seguras para a saúde”, garantiu.

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