Comissões irão incentivar doação
Pela primeira vez o Amazonas vai formar comissões intra-hospitalares para aumentar a captação de órgãos e reduzir as filas de espera por transplante no Estado. A preparação dos profissionais de saúde que irão integrar as comissões está sendo realizada através do Curso de Formação de Coordenadores Intra-Hospitalares para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes do Estado, que começou ontem no auditório da Fundação Hospital Adriano Jorge, na Cachoeirinha. O treinamento vai durar três dias e conta com representantes de cada unidade de saúde do Amazonas, no total de 120 pessoas.
No Brasil, de acordo com dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), são quase 64 mil pessoas que aguardam por transplante, sendo 24 mil esperando na fila por córnea, 31 mil aguardando por rim, 7 mil esperam por fígado e o restante, órgãos como pulmão e coração. Em São Paulo, a média de tempo de espera por transplante de fígado, por exemplo, é de 52 meses. No Rio Grande do Sul, este período é menor, em torno de 11 meses. Segundo o coordenador Estadual de Transplantes, Noaldo Lucena, a fila de pacientes que aguardam por transplante de córnea no Amazonas chega a 504 pessoas, e de rim, 368. “A orientação do governador Eduardo Braga é de reduzir as filas de transplantes no Amazonas e só poderemos atingir esse objetivo se tivermos o apoio dos profissionais de saúde nas unidades da rede. Por isso estamos realizando este treinamento, a fim de conscientizá-los e prepará-los para fazer uma abordagem às famílias de possíveis doadores, explicando como funciona a doação de órgãos, como este trabalho é realizado e a quem beneficia, além de informar à Central de Captação a possibilidade de ocorrer uma doação”, destacou o secretário executivo adjunto da Capital da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas, Raymison Monteiro de Souza.
O trabalho desses profissionais será feito através das comissões intra-hospitalares, formadas principalmente por enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. Elas irão trabalhar na identificação de doadores, abordagem dos familiares e na notificação aos setores competentes. “O grande objetivo desta atividade é poder atuar dentro do âmbito hospitalar. Nós queremos mudar o pensamento dos profissionais e fazer com que eles possam aderir à idéia da doação de órgãos”, ressaltou Noaldo Lucena. Ele adiantou que o Estado do Amazonas já realizou 93 transplantes de córnea, entre 2003 e os primeiros três meses deste ano. Em relação ao rim, foram feitos 57 transplantes no mesmo período. Através do trabalho das comissões intra-hospitalares, a meta é dobrar estes números nos próximos meses, reduzindo consideravelmente o número de pacientes na fila de espera por transplantes no Estado.
“Na semana passada tivemos uma doação de córneas em Manaus, e a família, mesmo diante do sofrimento e da dor de perda de seu ente querido, decidiu doar também o globo ocular. Este gesto, com somente uma doação, beneficiou cinco pessoas que estavam na fila. Ou seja, mesmo após a morte, uma pessoa ainda pode ajudar alguém”, declarou a diretora do Banco de Olhos do Amazonas, a oftalmologista Cristina Garrido, que será uma das palestrantes desta quarta-feira.
A atuação das comissões intra-hospitalares foi idealizada pelo governo espanhol e serve de modelo para o mundo inteiro. No Brasil, este sistema já vem sendo adotado desde o final de 1999 por Estados como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, considerados os mais adiantados nesse processo e que têm obtido resultados extremamente positivos. “O brasileiro, de uma forma geral, é favorável à doação de órgãos. Entretanto, um dos principais problemas hoje no país é o próprio profissional de saúde, que não se envolve neste assunto e, por conseqüência, não oferece a doação de órgãos às famílias que perdem seu parente e também não informa à Central de Captação da sua cidade a possibilidade de existir um doador na sua unidade de saúde”, destacou o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Roberto Schlindwein.
A programação do curso para esta quarta-feira prevê a discussão sobre a atualização em transplante de órgãos e tecidos, o papel da comissão intra-hospitalar e sua coordenação, a entrevista familiar, o panorama geral e as novidades que existem hoje na área de transplantes e o funcionamento dos bancos de tecidos oculares e de músculo-esquelético, pele e válvulas.
Também nesta quarta, chega a Manaus uma equipe de cirurgiões de Porto Alegre (RS) e Brasília (DF), a pedido do Governo do Estado do Amazonas, para fazer demonstrações cirúrgicas de captação de órgãos e passar orientações técnicas sobre transplantes aos participantes do curso. Os procedimentos serão feitos em animais, na Universidade Estadual do Amazonas (UEA).
Outras informações podem ser obtidas junto à Central de Transplantes do Amazonas, no telefone (92) 3612 – 2592.