Atenção especial para pacientes com paralisia
Wítalo Oliveira Santos, 21, há cinco meses chegou ao pronto-socorro João Lúcio com um projétil alojado em sua coluna vertebral. Depois de operado e fora do risco de morte, descobriu que havia perdido completamente o movimento das pernas e braços. O jovem é mais uma das vítimas atendidas na rede estadual de saúde com lesões graves na medula causadas principalmente por arma de fogo ou por acidentes de trânsito. Wítalo é também um dos primeiros a participar de um programa pioneiro que visa a adaptação de pacientes às limitações impostas pelo trauma raquimedular e suas seqüelas.
O programa de reeducação deste tipo de vítima é inédito em Manaus e está sendo desenvolvido inicialmente no Pronto Socorro João Lúcio, sob a coordenação do enfermeiro Paulo Dionísio, com experiência em centros de recuperação, dentre eles o Hospital Sarah Kubitschek, na Bahia.
Em apenas cinco meses de trabalho, já foram incluídos no programa 19 pacientes, que foram orientados para se adaptar a nova realidade e procurar a inserção social dentro de seu meio de convivência. O trabalho também vem ajudando a reduzir o tempo de permanência dos pacientes na unidade de saúde.
Dionísio explica eu na reeducação são envolvidos pacientes e familiares, com foco na reeducação e reinserção social da vítima e complementa a assistência médica e hospitalar oferecida na unidade. O objetivo é buscar o entendimento das limitações e a adaptação à nova condição física, por meio de esclarecimentos e exercícios específicos.
Para esclarecer a família e o próprio paciente, o pronto-socorro vem promovendo reuniões mostrando as conseqüências do trauma e o motivo da perda dos movimentos. “Mostramos que a medula, responsável por levar as ordens do cérebro para as outras partes do corpo, quando muito afetada, não permite que as ordens cheguem ao seu destino”, explica.
Dionísio conta que durante as reuniões procura transmitir confiança quanto à recuperação, para evitar a depressão, comum nesses casos. Cuidados como a movimentação do paciente também são ensinados nos encontros na unidade hospitalar. O enfermeiro explica que embora privado de movimentos o paciente não deve ficar imóvel, pois a permanência prolongada em uma mesma posição ocasiona o aparecimento de feridas que se transformam em portas de entrada para infecções, além de causar o atrofiamento e deformação dos membros. “Por conta disso o paciente precisa ser movimentado em intervalos regulares, sempre com o devido cuidado”, assegura.
O enfermeiro destaca que o trabalho de reeducação não garante a retomada dos movimentos, mas é importante, pois ajuda tanto ao paciente quanto as pessoas que irão conviver com este a realizarem de forma adequada e segura as atividades normais do dia-dia.
Esforço garantiu movimentos
Já se preparando para deixar o pronto-socorro João Lúcio após cinco meses de internação, Wítalo dos Santos conta que a primeira reação ao perceber que seus membros superiores e inferiores não obedeciam mais o comando emitido pelo cérebro foi a de revolta e profunda angústia. “É difícil para qualquer ser humano descobrir que a partir daquele momento vai depender de outra pessoa para tudo”, explica o enfermeiro Paulo Dionísio.
Durante o tempo de internação Witalo e sua família seguiram todas as orientações dadas pelo enfermeiro. Isso, somado a uma enorme vontade de viver fizeram com que o jovem começasse a recuperar parte dos movimentos do braço esquerdo e das pernas. Witalo também dependia de um aparelho para manter a respiração, mas com a recuperação dos movimentos está recuperando também a capacidade de respirar sozinho.
A evolução é lenta e progressiva, mas o jovem já consegue segurar alguns objetos, comer sozinho e até escrever seu próprio nome. Para passar o tempo, gosta de pintar e por isso já conta com tintas e telas para ocupar o tempo.