Banco de Olhos completa sete anos com mais de 800 captações
Em sete anos de funcionamento, o Banco de Olhos acumula um total de 880 doações de córnea recebidas. No ano passado, o número de doações chegou a 191 córneas, o mais alto registrado desde 2004.
Até abril de 2011, o Banco contabiliza a doação de 82 córneas. “O procedimento de um banco de olhos é único. Captam-se as córneas de pacientes que já faleceram para que elas sejam transplantadas em pacientes cegos ou com deficiências visuais graves”, explica Garrido.
Até seis horas após o falecimento, a equipe do Banco de Olhos pode remover as córneas, se a família concordar com o procedimento. Segundo Garrido, para atrair novos doadores, o que é considerado o principal desafio da entidade para os próximos anos, tem sido desenvolvido um trabalho de estímulo com familiares e com os hospitais para que os óbitos sejam informados assim que ocorrerem.
“A dificuldade no Brasil inteiro é o número de doações. Ainda não há uma cultura de avisar os óbitos em tempo hábil e isso acaba atrapalhando o diálogo com as famílias para convencê-las sobre a importância da doação. Estamos trabalhando principalmente no entrosamento com os hospitais para essa troca ágil de informação”, diz.
Depois de retirada do doador, a córnea precisa ser utilizada no procedimento cirúrgico que faz a substituição da córnea doente por uma nova em até 14 dias. Mas nem todo o material doado para o Banco de Olhos está em condições adequadas para ser transplantando em outras pessoas. Para garantir essa qualidade, o material doado é avaliado por meio de equipamentos e procedimentos seguros, que seguem as normas nacionais e internacionais de qualidade dos órgãos reguladores.
Além disso, uma amostra do sangue do doador da córnea é testada para doenças transmissíveis, tais como as Hepatites B e C e o HIV.
A contaminação por essas doenças e a má qualidade do tecido ótico são os principais motivos que levam ao descarte do material doado. “Às vezes acontece de o paciente ter ficado muito tempo internado e ter tomado muita medicação e isso ter enfraquecido a córnea, daí ela não pode ser usada. Mas Hepatites e o HIV são os principais motivos para descarte. Por isso, quanto maior for o número de doações, melhor para toda a população”, explica.
Riscos – Segundo a diretora do Banco de Olhos, a contaminação da córnea por causa de lentes de contato usadas sem orientação médica e a perfuração da córnea durante a realização de trabalhos insalubres e em acidentes de trânsito estão entre os principais motivos que levam a cirurgia de transplante de emergência no Amazonas, atendidos pelo sistema estadual de saúde.
”Nós temos atendido muitos jovens que tiveram a córnea perfurada por que usaram lentes de contato sem orientação médica. Em muitos casos, por incrível que pareça, são emprestadas de amigos. São jovens que não precisam nem usar óculos de grau, mas que, por questões de vaidade, usam as lentes coloridas e acabam se prejudicando. Alguns conseguem salvar a visão, mas outros acabam ficando cegos”, alerta.
Técnica inédita – Para aproveitar ao máximo as doações feitas no Estado, Garrido desenvolveu uma técnica inédita para aplicar no momento de retirar a córnea dos pacientes em óbito que possuem problemas com sangramento e coagulação sanguínea. A técnica foi apresentada no ano passado, no Congresso Brasileiro de Oftalmologia, realizado em Salvador (BA), e acabou sendo contemplada com um prêmio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.
”Essa técnica é inovadora e permite que pacientes que apresentam problemas de distúrbios de coagulação fiquem sem nenhum hematoma no rosto”, esclarece.
De acordo com Garrido, o Banco desenvolve campanhas para incentivar a doação entre a população e também possui programas educacionais sobre o tema realizados nas escolas da rede estadual de ensino em parceria com a Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino (Seduc).
Disciplina especial na UEA – Ainda segundo Garrido, a partir do segundo semestre deste ano, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) passa a oferecer para os estudantes dos cursos da área de saúde uma disciplina optativa que trata sobre o funcionamento do processo doação e transplante de córneas.
”É mais um trabalho de base para envolver os futuros profissionais que um dia vão estar nos hospitais e esclarecer sobre todo o procedimento. A ideia é que essa matéria possa ser incluída na grade curricular da universidade como crédito obrigatório para cursos de saúde, mas, por enquanto, será optativa para os estudantes”, enfatiza.
A área de transplante de córneas, juntamente com as áreas de cardiologia e transplante de rim (entre vivos), está entre os setores em que ocorreram os maiores avanços na rede estadual de saúde do Amazonas nos últimos anos, segundo avaliação do titular da Secretaria de Estado de Saúde (Susam), Wilson Alecrim.
O Banco de Olhos do Amazonas funciona atualmente na Fundação Hospital Adriano Jorge, onde está instalado o laboratório de conservação e avaliação das condições das córneas doadas, e no Instituto Médico Legal (IML), onde funciona um núcleo de captação de doadores.
A córnea é uma superfície transparente que fica na parte da frente do olho. Por causa de doenças adquiridas por ferimentos ou por defeitos de nascimento, ela fica esbranquiçada, o que provoca a perda da visão. A recuperação dela pode ser feita através do transplante.
Doações – As doações também são importantes para a realização de pesquisas científicas. Além da córnea, a esclera (parte branca) também pode ser transplantada. As outras partes do olho doadas podem ser utilizadas em pesquisas científicas para novas descobertas.
Conforme a atual legislação brasileira, qualquer pessoa com mais de dois anos de idade pode ser doador de córnea. A doação é decidida pela família que permite o procedimento por meio de um termo de autorização. A escolha da pessoa que vai receber a doação é feita pela ordem de urgência, seguindo a Lista Única de Receptores. A inscrição na Lista é feita pelo médico que acompanha o paciente.
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