Dia Nacional de Luta Antimanicomial
Realizado pela Coordenação Estadual de Saúde Mental, da Secretaria de Saúde do Governo do Estado (Susam), em parceria com o Centro de Reabilitação Psicossocial Girassol, a exposição teve por objetivo promover a reinserção e a reabilitação psicossocial de pessoas com transtornos mentais, através da linguagem fotográfica. A mostra foi realizada na sede da Fundação Oswaldo Cruz da Amazônia (Fiocruz), e poderá ser levada para outras instituições.
Para compor a mostra, os usuários de saúde mental percorreram espaços onde estiveram durante a infância e adolescência, locais de trabalho e lazer, e diversas áreas públicas, considerados seu território afetivo e existencial. A apresentação das fotografias foi acompanhada por poesias de Alcides Werk, Elson Farias, Aldísio Figueiras e do filósofo Paulo Graça. Os pacientes atendidos pelo Estado no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro também montaram uma maquete da cidade de Manaus idealizada por eles.
Além disso, o Dia Nacional de Luta Antimanicomial foi escolhido para a apresentação oficial da Associação Amazonense do Campo de Atenção Psicossocial “Chico Inácio”, organização não-governamental composta por profissionais de diversas áreas, familiares e usuários de serviços de saúde. Filmes de curta duração referentes a frentes de trabalho e reabilitação psicossocial também fizeram parte da programação.
O coordenador estadual de saúde mental, Rogelio Casado, explica que a fotografia foi escolhida para o trabalho com o usuários por possibilitar o exercício da cidadania, da expressão de liberdade e da convivência com os diferentes. Para o coordenador, mapear um território, capturando fragmentos de suas histórias, concorre para um novo processo civilizatório, onde as pessoas são convidadas a desenvolver novas relações sociais e culturais com o fenômeno da loucura. “Buscamos contribuir para a formação de uma mentalidade não manicomial, através do desenvolvimento de um pacto social que valorize a construção da cidadania, capaz de reduzir os processos de exclusão social a que são submetidas as pessoas com transtornos mentais”, disse Rogelio Casado.
Foram os mais antigos pacientes como a Sódia, de 43 anos, há seis anos em tratamento e morando o mesmo período no hospital, que fizeram a mostra Meu Território, Minhas Raízes. As fotos de Sódia focalizaram principalmente o Anfiteatro da Ponta Negra. Ao ser questionada sobre seu trabalho, ela conta que de sua infância e adolescência lembra muito do circo, com palhaços e “a moça que andava na ponta dos pés em um fio muito fino”. Para ela “só podia ser magnetismo”. O Anfiteatro para ela é o circo.
O Moisés Mafra tem a mesma idade de Sódia, mas mora há 11 anos no Eduardo Ribeiro. Nasceu e cresceu no Cacau Pirera. Todas suas fotos são da beira do rio, no São Raimundo, pois não quis atravessar de voadeira.
O Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro mantém em regime de internato 44 pacientes com transtornos mentais. Além dos residentes, passam mensalmente pelo ambulatório da unidade cerca 2,8 mil pessoas. Rogelio Casado anuncia que o Governo do Estado vai dar início, ainda neste ano, à construção do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAP), para descentralizar o atendimento, seguindo as diretrizes da Lei Paulo Delgado, que prevê uma nova abordagem ao doente mental e o fim dos hospitais para internação de longa duração.