Estado discute política de transplantes

Credenciado atualmente para a realização de transplantes de rim e córnea, o Amazonas deve criar as condições de infra-estrutura e recursos humanos para ampliar a captação, distribuição e transplantes de órgãos, começando pelo transplante de fígado. Essa é a expectativa do secretário estadual de Saúde, Wilson Alecrim, que abriu ontem, oficialmente, o 1º Seminário de Implementação da Política de Transplantes do Amazonas. O evento, que acontece no auditório da Fundação de Medicina Tropical até hoje (22), reúne especialistas, gestores e usuários do SUS para discutir as prioridades do Estado e criar uma política para o incremento das ações de alta complexidade.

De acordo com Wilson Alecrim o transplante de fígado está entre os prioritários no Amazonas. Estima-se que no Estado existam mais de 150 mil portadores dos vírus do tipo B (HBV) e C (HCV). Cerca de 10% a 15% destes podem desenvolver cirrose hepática e deste grupo, um percentual menor pode ter um agravamento da doença, para o qual a única solução será o transplante de fígado. “Queremos estabelecer políticas que levem em conta o perfil epidemiológico da nossa região, por isso consideramos que o próximo passo deve ser a preparação do Estado para to transplante hepático” explica o secretário. No entanto, ressalta, a definição final caberá aos participantes do seminário. Ao término do encontro eles deverão apresentar um documento relacionando dificuldades e necessidades para o avanço dos transplantes no Estado.

Segundo Alecrim, a demanda atual vem sendo atendida pelo programa de TFD (Tratamento Fora de Domicílio), por meio do qual os pacientes vem sendo encaminhados principalmente para Porto Alegre. Para oferecer o serviço no Estado, será necessário contar com equipes treinadas e credenciadas no Ministério da Saúde. Alguns profissionais que atuam no Amazonas já estão capacitados. Esse é o caso do cirurgião Fernando Fonseca, da Universidade Federal do Amazonas. Além disso, é preciso montar toda a estrutura física e de equipamentos.

A representante do Ministério da Saúde, Geni Câmara, que faz parte da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) disse que o Amazonas está consolidando a proposta do Ministério da Saúde em relação aos transplantes. “O Estado está buscando a ampliação do acesso e, ao mesmo tempo a qualidade e a segurança do serviço”, destacou.

Transplantes dependem de solidariedade

No seminário também estão sendo abordados assuntos como o processo de doação e a importância das comissões intra-hospitalares na doação de órgãos e tecidos para transplantes. Um enfoque especial está sendo dado para os assuntos relacionados aos transplantes de rim e córnea, que já são realizados no estado.

O Amazonas possui uma Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), e, de acordo com o órgão, está habilitado para realizar transplante de rim e de córnea na rede pública estadual desde 2002 e 2003, respectivamente. Os transplantes de rim são feitos apenas entre pessoas vivas. Nesses casos o doador precisa ser voluntário e a doação geralmente é feita por pessoas da família. Até o momento, 114 transplantes de rim já foram feitos no Estado.

O Amazonas também possui um Banco de Olhos, órgão ligado a CNCDO, e responsável por captar e realizar os transplantes de córnea. Em funcionamento há apenas um ano, o Banco já captou, de acordo com sua diretora, Cristina Garrido, 33 pares de córneas. Desde 2003 foram feitos 70 transplantes, incluindo córneas importadas e captadas no próprio estado. De acordo com o coordenador estadual de Transplantes, Noaldo Lucena, a maior dificuldade para a ampliação do número de transplantes é a doação. “Culturalmente ainda há muito preconceito e o trabalho de conscientização é lento, mas estamos sempre em campanha”.