Estado inaugura seu primeiro Caps
O primeiro Centro de Atenção Psicossocial da rede estadual de saúde – Caps Silvério Tundis – foi inaugurado pelo governador Eduardo Braga na manhã desta quinta-feira, dia 4, no bairro de Santa Etelvina. A unidade, que já está em funaionamento, irá atender portadores de transtornos mentais, com funcionamento 24 horas para acolhimento, consultas, internação de curta permanência e tratamento.
Durante a inauguração o governador lembrou que o Caps faz parte do programa de implantação de um novo modelo de atenção psicossocial no Estado e atende as políticas nacional e estadual de Saúde Mental.
O secretário estadual de saúde, Wilson Alecrim, destacou que estas políticas orientam para uma nova abordagem aos portadores de problemas mentais, que não mais devem ser submetidos a internações por longos períodos em hospitais psiquiátricos, nem excluídos dos meios sociais, culturais e familiares.
O coordenador estadual de saúde mental, psiquiatra Rogelio Casado, explica que atualmente mais do que tornar o indivíduo mais tolerável para o convívio social, “trabalha-se para que todos possam viver plenamente na cultura dos novos tempos”. Para isso, o antigo modelo, que tinha o hospital como centro de atendimento e internação, está sendo substituído por uma rede de atenção diária e multidisciplinar, na qual estão incluídas as unidades de saúde convencionais (centros de saúde, programa Saúde da Família, hospitais gerais e policlínicas) e os Caps, onde o tratamento do usuário também acontece a partir de uma nova abordagem.
Casado explica que no Centro de Atenção Psicossocial o tratamento é feito a partir de um projeto terapêutico personalizado, com a oferta de atendimento psicoterápico, tratamento com medicamentos, orientação familiar, grupal e individual e terapia ocupacional, além de atividades comunitárias e de suporte social, que visam garantir a permanência ou reinserção do portador de transtornos mentais no meio social. As oficinas têm prioritariamente um caráter terapêuticos e secundariamente podem estimular o envolvimento do usuário em programas de geração de renda na comunidade.
O coordenador destaca que internações poderão ocorrer no Caps, mas por curtos períodos de permanência. Sete leitos estão disponíveis para esta finalidade. Também pode haver atendimento domiciliar, se necessário.
Presente à cerimônia de inauguração, o presidente do Sindicato dos Psicólogos do Amazonas, Alberto Jorge, destaca que a inauguração do Caps representa um divisor de águas no tratamento da saúde mental no Amazonas. “Com este primeiro passo começa a revolução na saúde mental do Amazonas e é preciso reconhecer que isso acontece graças a vontade política e a sensibilidade do governador Eduardo Braga”.
Caps vai oferecer atendimento integral
O Caps Silvério Tundis vai funcionar 24 horas para receber pessoas com intenso sofrimento psíquico (psicoses, neuroses, distúrbios de humor e outros quadros graves). O usuário poderá procurar o Caps espontaneamente ou ser encaminhado por outra unidade de saúde. A assistência será prestada por uma equipe multidisciplinar, composta por psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, auxiliares de enfermagem e artesãos, que lá receberão a denominação de “cuidadores”.
O Caps Silvério Tundis será referência para os moradores do bairro de Santa Etelvina e adjacências. Moradores das demais áreas de Manaus continuarão a receber atendimento na policlínica Codajás e no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, via Pronto Atendimento Humberto Mendonça, onde o serviço de atenção também acontece durante 24 horas.
Descentralização – O secretário estadual de Saúde, Wilson Alecrim, esclarece que a descentralização do atendimento em Saúde Mental será concluída com a implantação total da rede de Caps, contemplando as diversas zonas da capital e priorizando as áreas de maior concentração de população com transtornos mentais. Para subsidiar a definição dos locais específicos para implantação dos novos Centros, o Estado está promovendo um censo psiquiátrico que começa a ser realizado em junho, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz.
Alecrim acrescenta que, como a Saúde Mental está incluída nas ações básicas, cuja responsabilidade é da prefeitura de Manaus, as Secretarias estadual e municipal irão trabalhar de forma articulada, a partir de agora. O governador adiantou que a construção de novos Caps deve ficar a cargo do município.
Segundo o secretário, o programa estadual de Saúde Mental também prevê a criação de centros de convivência, a desativação do Hospital Psiquiátrico como centro de internação permanente e a criação de leitos para portadores de transtornos mentais nos hospitais gerais. “Queremos a rede de saúde preparada para atender os pacientes psiquiátricos como faz com os portadores das demais doenças, evitando o estigma e o preconceito”, esclarece Wilson Alecrim.
Internos do Hospital irão morar em casas
Além da rede de Caps, serão criados, dentro dos próximos dois meses, cinco Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) – casas alugadas que passarão a abrigar 40 os pacientes que há décadas estão internados no Eduardo Ribeiro. Eles terão acompanhamento profissional e os que estiverem em condições físicas e mentais, começarão a retomar atividades cotidianas (domésticas e sociais), o que pode incluir arrumação da casa, compras no supermercado e participação em atividades culturais.
“Hoje a discussão da saúde mental no Amazonas se dá num cenário completamente diferente de anos atrás. Estamos trabalhando com planejamento, de forma sistematizada e com a preocupação de criar serviços que substituam o antigo modelo, com sustentabilidade e competência técnica e operacional”, destaca o secretário Wilson Alecrim. Ele se refere à estruturação do programa estadual e à aprovação da política estadual de saúde mental, além da capacitação dos profissionais para atuar nos novos serviços e desenho da nova rede de unidades, o que vem ocorrendo nestes últimos três anos.
Governo já inaugurou mais de 40 unidades no Estado
O secretário também informa que o Caps Silvério Tundis é a 24ª unidade de saúde inaugurada pelo atual governo na capital. Os investimentos em adequação física e equipamentos foi de R$ 445, 2 mil. “A rede de saúde na capital está ganhando o reforço de unidades bem equipadas e com padrão físico moderno, com a intenção de melhorar cada vez mais o atendimento à população”. No interior, até o momento, 21 hospitais dotados de equipamentos como ultrassonografia e eletrocardiograma, foram inaugurados pelo governo desde 2003. Outros 16 estão atualmente em obras.
Silvério Tundis, pioneiro da Reforma Psiquiátrica
O amazonense Silvério Almeida Tundis, natural de Urucurituba, formou-se em medicina pela Universidade Federal do Amazonas em 1977 e aos 26 anos (início dos anos 80), liderou a implantação da Reforma Psiquiátrica no estado do Amazonas, após a denúncia do conluio entre violência aos direitos humanos e corrupção administrativa no então Hospital Colônia Eduardo Ribeiro.
Sua administração foi marcada por um ousado projeto de reabilitação psicossocial: internos que vivam sob o ócio químico iniciaram o cultivo das terras agricultáveis daquele serviço de saúde, resultando na produção de 1 tonelada de verduras, roçados de macaxeira, milho, mandioca e feijão, criação de 60 cabeças de porcos, além do funcionamento de uma casa de farinha. A renda do trabalho era dividida entre todos.
Além do projeto de reabilitação, a ocupação do pavilhão, denominado Maria Damasceno, por internos que viviam na instituição há mais de 10 anos, bem como a idéia de criar um serviço de emergência – só materializado quando ele assumiu a Coordenação Estadual de Saúde Mental, tendo sido o seu primeiro coordenador –, sinalizaram para o rumo que a Reforma Psiquiátrica brasileira tomaria, particularmente, a partir de novembro de 1987, quando os trabalhadores de saúde mental ergueram alto a bandeira “por uma sociedade sem manicômios”.
Suas idéias estão no livro Cidadania e Loucura, editado pela Vozes.
Ao morrer no início dos anos 90, deixou uma obra inconclusa, como é própria do espírito da reforma, sempre se refazendo para conquistar corações e mentes na luta pela construção da cidadania dos portadores de sofrimento mental.
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