FMT terá novo laboratório

O diretor presidente da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM), médico Sinésio Talhari, informou que no final de março será inaugurado na unidade o Laboratório Multidisciplinar de Pesquisas em Doenças Tropicais e Infecciosas Endêmicas da Amazônia, orçado em R$ 1,2 milhão. A inauguração será feita pelo governador Eduardo Braga.

O laboratório está na fase final de construção e muitos de seus equipamentos já foram comprados com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). “A Fapeam, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o CNPq são parceiros fundamentais na implementação das atividades deste Laboratório”, afirma Sinésio Talhari.

De acordo com ele, o laboratório representa um avanço no campo da pesquisa porque permite a dezenas de mestres, doutores e estudantes a utilização de equipamentos de alta precisão compartilhados, ou seja, sem a necessidade de que para cada pesquisador tenha-se um laboratório específico.

As informações prestadas pelo médico infectologista e chefe do Departamento de Pesquisa da FMTAM (DEPE), Luiz Ferreira, dão conta de que a implantação do novo laboratório terá impactos diretos nos aspectos científico, tecnológico, econômico, social e ambiental. O novo laboratório funcionará no mesmo endereço da FMTAM, no conjunto D. Pedro I, zona centro oeste.

“Há uma tendência de cada pesquisador ter o seu próprio laboratório e isso duplica os equipamentos encarecendo os custos de forma geral. Muitos equipamentos poderiam ser subutilizados. Então, esse laboratório multidisciplinar vem para suprir uma necessidade de compartilhar esses equipamentos sem comprometer a pesquisa de cada cientista”, adianta Luiz Ferreira.

De acordo com ele, será estabelecido um cronograma de uso do laboratório para que aproximadamente 50 pesquisadores possam usufruir dos aparelhos.

Segundo o médico Luiz Ferreira, as instalações do laboratório para o uso em bacteriologia, virologia e parasitologia permitirão a geração de competência científica em mestres e doutores, anualmente. “Sem falar nas mais variadas publicações que podem surgir a partir daí, como teses e dissertações. Tudo porque o ambiente tem capacidade para que se realizem procedimentos das técnicas de biologia molecular, cultura de células e testes diagnósticos, por exemplo”, antecipa o médico.

Em relação aos impactos tecnológicos, ele afirma que o conhecimento científico apurado sobre a riqueza natural da Amazônia pode levar ao desenvolvimento de novos produtos para a saúde humana. “Na economia, as possibilidades podem surgir no que diz respeito às patentes desses produtos novos. Relacionando o laboratório ao meio ambiente, podemos dizer que com a implantação da proposta de estudos voltados à ecologia de microorganismos será possível visar ainda mais o controle de agentes infecciosos e seus vetores. Tudo isso interfere no âmbito social, à medida que a população passa a se beneficiar dessas novidades descobertas e aprimoradas”, explica o médico Luiz Ferreira.

Entendendo as doenças endêmicas

Com a implantação do laboratório, as pesquisas em desenvolvimento na FMTAM ganharão novo fôlego para continuar suas trajetórias. Para entender cada vez mais as doenças endêmicas – aquelas que são características em determinada região – a FMTAM realiza simultaneamente diversas pesquisas, como as que estudam a leishmaniose e malária, em seus aspectos clínicos e de tratamento, por exemplo.

De acordo com o médico infectologista e um dos coordenadores de pesquisas em leishmaniose, Jorge Guerra, um dos estudos realizados é voltado à leishmaniose mucosa. “É uma manifestação menos comum da doença, onde acomete o nariz do paciente. Por isso mesmo, é ainda pouco explorada, ou conhecida. Ela costuma ser secundária às feridas manifestadas pelo resto corpo. Às vezes não ocorre o tratamento adequado e ela surge, ou aparece mesmo sem precedentes em outras partes”, comenta.

No mês de janeiro, a FMTAM foi contemplada com um projeto financiado pelo Ministério da Saúde, através da FINEP, no valor de R$500 mil, que vai envolver Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB), além da própria FMTAM. “O objetivo é analisar quais as drogas mais sensíveis e eficazes utilizadas no tratamento da leishmaniose”, afirma Luiz Ferreira.

Em relação à malária, um dos exemplos de pesquisa é a que recentemente revelou que a doença atinge de forma mais grave as mulheres gestantes e fetos. Nessa pesquisa foram analisadas 450 grávidas com malária durante um ano e seis meses, para avaliar os efeitos da doença durante a gestação tanto para a mulher quanto para o feto. Deste total, 30% apresentaram mais de uma vez os sintomas da malária.

Existe outra pesquisa, que envolve os vírus Mayaro e Oropouche, que deixaram de ser diagnosticados na região amazônica há pelo menos 40 anos. Coordenado pela médica e pesquisadora da FMTAM, Maria Paula Mourão, o projeto de pesquisa tem como objeto esses vírus porque causam febre semelhante aos quadros de malária e de dengue. “Temos uma demanda muito grande de pacientes com febre todos os dias, onde no máximo 20% têm malária. Do total dos restantes, outros 20% apresentam dengue. Os outros não têm um diagnóstico preciso. Por isso, resolvemos incluir na nossa rotina os exames para esses dois vírus também”, explica a pesquisadora. Aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), esse projeto tem a vigência até o ano de 2010.