FVS anuncia surto de Doença de Chagas

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) anunciou na tarde desta quinta-feira (26) um surto de doença de chagas no município de Coari, com 22 casos confirmados até o momento. De acordo com o diretor técnico da Fundação, infectologista Bernardino Albuquerque, os pacientes, que pertencem a famílias da comunidade Santa Maria, na Costa do Jussara, apresentaram quadros agudos, sem gravidade, e já estão sendo tratados. O tratamento será feito durante 60 dias e algumas internações estão sendo realizadas apenas para acompanhamento por 24 ou 48 horas.

O primeiro caso foi notificado no último final de semana, em um homem. Ele havia procurado o serviço de saúde com suspeita de malária e na lâmina de exame foi identificada a presença do Trypassoma cruzi, protozoário que transmite a doença de chagas. Isto foi possível porque os técnicos que trabalham no controle da malária foram capacitados para identificar outras doenças transmitidas por vetores silvestres na Amazônia.

Segundo Bernardino Albuquerque, uma equipe formada por profissionais da Fundação de Vigilância em Saúde, da Fundação de Medicina Tropical, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e da Secretaria Municipal de Coari trabalham desde segunda-feira no município. “Está sendo feita uma investigação epidemiológica e entomológica, que deve ser concluída na próxima semana”. O levantamento tem o objetivo de verificar as condições e o histórico de saúde dos cerca de 120 moradores da comunidade e a existência ou não do inseto Barbeiro, vetor do Trypanossoma, na região onde ocorreram os casos.

Bernardino adianta que a principal suspeita é de contaminação acidental. Todos os pacientes podem ter entrado em contato com o transmissor da doença de chagas após ingerirem açaí, preparado em grande quantidade para as comemorações da Páscoa. “Provavelmente entre os cachos de açaí usados para o preparo da bebida estava o barbeiro, explica. Todas as pessoas que tiveram diagnóstico confirmado de doença de chagas beberam do açaí, mas a contaminação pelo consumo da bebida só será confirmada após a conclusão das investigações.

Esta não é a forma tradicional de contaminação no Brasil, onde os casos ocorrem após a picada do barbeiro, que deposita fezes contaminadas na pele. “No Amazonas, os casos são esporádicos, acidentais e silvestres”, observa o infectologista. Ele diz que não há risco de disseminação da doença e lembra que há cerca de dois anos houve registros no município de Tefé, nas mesmas circunstâncias.

Como não há formas de prevenir a presença do barbeiro na floresta e não se justifica recomendar a suspensão do consumo de açaí, uma vez que os casos foram isolados, Bernardino Albuquerque diz que a Fundação de Vigilância em Saúde trabalha na elaboração de uma cartilha com recomendações para o manuseio e consumo de produtos típicos da região.

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