Governo discute combate à desnutrição

Um plano para combater a desnutrição no Amazonas está sendo discutido por técnicos do Governo do Estado e do Governo Federal, com a participação das prefeituras municipais, universidades locais, instituições de pesquisa e órgãos de apoio à criança e ao adolescente. O plano deve traçar estratégias intersetoriais e intergovernamentais para garantir, a partir de 2008, maior segurança alimentar às crianças amazonenses, em especial às menores de cinco anos de idade.

As ações estratégicas de combate à desnutrição no Estado terão como base os resultados da Chamada Nutricional, pesquisa realizada no segundo semestre do ano passado pela Secretaria de Estado da Saúde (Susam), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Ministério da Saúde (MS).

O trabalho, que teve o apoio de instituições como Fiocruz, Inpa, Unicef e secretarias municipais de saúde, avaliou quase cinco mil crianças menores de cinco anos, na capital e em outros 42 municípios do Amazonas. As crianças foram medidas e pesadas e os pais responderam a um extenso questionário socioeconômico.

“Pela primeira realizamos uma pesquisa com esta amplitude”, disse o secretário estadual de saúde, Wilson Alecrim. Ele garantiu que os resultados servirão para nortear a criação de novas estratégias e ajustes necessários aos programas de educação, saúde, geração de emprego e renda, saneamento básico e assistência social. “A desnutrição é multifatorial, está ligada às condições gerais de vida das populações, e por isso não é problema específico da área de Saúde”.

Segundo o secretário, várias propostas estão sendo aguardadas pela Susam, que tomou a iniciativa de levantar dados científicos sobre o estado nutricional das crianças por considerar a desnutrição, incluindo o baixo peso e o sobrepeso, como um problema de saúde pública, com causas que estão fora da sua área de competência. “A criança desnutrida é fruto de necessidades não atendidas e que não podemos resolver sozinhos”.

Pesquisa avaliou peso, altura e estatura das crianças

A pesquisa realizada pela Susam e MDS atingiu 4.646 crianças, das quais 51,8% do interior do Estado e 48,2% de Manaus. A coleta de dados foi feita durante a segunda etapa da campanha de vacinação, no segundo semestre do ano passado. Os dados foram enviados à Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para consolidação e análise.

Os resultados mostraram que 8,5% das crianças avaliadas na capital têm déficit nutricional, com retardo no crescimento. No interior, o índice é quase o dobro – 15%. Segundo a coordenadora estadual de Alimentação e Nutrição, Ester Mourão, foram consideradas as relações estatura e idade, peso e idade, e peso e estatura.

Ela disse que outros fatores associados à desnutrição também foram revelados a partir do estudo das condições socioeconômicas das famílias. “A questão social interfere no nível de nutrição”.

Entre a classe E o nível de desnutrição é mais elevado, quase quatro vezes o verificado nas classes A e B. Em relação à escolaridade, a pesquisa demonstrou que quanto menor o nível de instrução dos pais, maiores os riscos de desnutrição. O déficit das crianças cujas mães não têm escolaridade é de 21,5% (estatura para idade) na capital .Entre aquelas cujas mães estudaram nove anos ou mais, o déficit nutricional atinge 4,1%. No interior, a tendência é a mesma, mas os índices são ainda maiores – 33% dos filhos de mães sem instrução são desnutridos. Entre os filhos de mães com maior escolaridade, a desnutrição chega a 10% nos 42 municípios pesquisados.

Outra informação revelada pela pesquisa é o aumento da desnutrição entre as famílias que têm a mulher como chefe. “É provável que a mãe trabalhadora tenha maiores dificuldades para cuidar e acompanhar o desenvolvimento dos filhos”,avaliou a diretora interina de Avaliação e Monitoramento do MDS, Leonor Pacheco, também presente no workshop. Ela destacou outros fatores de impacto no estado nutricional das crianças pesquisadas, incluindo o acesso a rede pública de água e saneamento, amamentação, renda familiar e cobertura dos programas sociais como o Bolsa Família.

Segundo Leonor, a pesquisa já foi expandida para os outros estados da região Norte. Os resultados devem estar consolidados no primeiro semestre do ano que vem. “Descobrimos que o Amazonas preocupa como o semi-árido, onde achávamos que tínhamos a pior situação nutricional”.

Para Ester Mourão, é importante a partir de agora saber os motivos do déficit nutricional desta parcela da população. “Será que não estamos aproveitando as frutas com alto poder nutritivo da região, nem o peixe?”, questiona.
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