Hospital Fajardo garante cirurgias à crianças com lábio leporino no AM

“Meu maior sonho é ouvir ele falando vovó para minha mãe”, diz Soraia Araújo, 36, mãe do pequeno Miguel, de um ano e seis meses. O bebê que nasceu com uma fissura lábiopalatina, conhecida popularmente como lábio leporino é um dos 271 pacientes infantis que receberam a cirurgia de correção entre 2018 e este ano, no Hospital Infantil Dr. Fajardo, da Secretaria de Estado de Saúde (Susam).

 

De acordo com o diretor da unidade, Aly Ballut, até abril deste ano, 52 cirurgias de correção da fissura lábiopalatina já tinham sido realizadas na instituição.

 

No ano passado, 218 crianças passaram pelo procedimento na unidade, que desde 2014 realiza esse tipo de cirurgia no Estado. O Hospital Fajardo, localizado na avenida Joaquim Nabuco, no Centro de Manaus, é referência na rede pública e único do Estado a oferecer  o procedimento.

A  maioria das cirurgias em crianças com a malformação, segundo o diretor, é feita para reconstrução do lábio e do palato. Os dois procedimentos já foram feitos por Miguel, que agora recebe acompanhamento com fonoaudiólogo na unidade. 

“A primeira cirurgia ele fez com quatro meses que foi a correção dos lábios. Agora em março, com um ano e quatro meses fez a do palato. E aos oito anos ele deve fazer da arcaria dentária, após perder os dentinhos de leite. Foi tudo muito tranquilo, com uma ótima recuperação. Já saí do Balbina (maternidade Balbina Mestrinho) com o encaminhamento. Minha mãe é apaixonada por ele, e meu  maior sonho é ouvir ele falando vovó para ela ”, disse a mãe emocionada.

A fissura lábiopalatina é uma malformação do lábio superior, que também pode atingir o céu da boca e resulta do desenvolvimento incompleto do lábio e/ou do palato, enquanto o bebê está se formando.

O diretor da unidade explica que o lábio pode ser reparado nos primeiros meses de vida, já o céu da boca leva mais tempo. As intervenções cirúrgicas dependem do desenvolvimento do bebê e são determinadas pela equipe técnica. 

Em casos de problemas na fala, se a fissura atingir somente o lábio, é improvável que haja problemas na comunicação. Entretanto, se chegar até o céu da boca, além das cirurgias corretivas, haverá necessidade de tratamento fonoaudiológico, conforme adiantou Aly Ballut.

Para o diretor, a cirurgia representa uma mudança para toda a vida dos pequenos pacientes. “Tem um ganho, um impacto social muito grande na vida dessa criança e dessa família. Esse retorno, da felicidade em falar melhor, comer e até a estética que causa a cirurgia realmente é muito gratificante, motiva toda a equipe. Trabalhar com criança é muito especial”, disse o diretor.

A condição impacta não somente a fala da criança, como também na nutrição e respiração, levando o paciente, muitas vezes, ao isolamento social, conforme explicou a coordenadora de ambulatório do hospital, enfermeira Janaína Alves.

 A mãe do pequeno Miguel diz que procura fortalecer as demais mães. “Eu sempre converso com as mães, que precisam de uma palavra amiga, de um incentivo. A maioria eu conseguir tranquilizar, não é um bicho de sete de cabeças. Eu sofri antecipadamente pela cirurgia, claro, e acabou que foi muito bem. Sofria, sim, porque é meu filho, mas descobri que ele é um guerreiro”, celebrou Soraia.

Acompanhamento completo – Até 2018, parte do acompanhamento dos pacientes era feito em outras unidades e, desde março deste ano, o Hospital Doutor Fajardo implantou toda a rede de atendimento aos “fissurados”, como são chamadas as crianças com lábio leporino, dentro do Fajardo, conforme explicou a coordenadora de ambulatório do hospital, enfermeira Janaína Alves.

Na maternidade ou nas Unidades Básicas de Saúde, os pais da criança podem pedir o encaminhamento para a cirurgia de lábio-leporino. “O agendamento é aberto via Sistema de Regulação para todo o Estado. No interior, todas as cidades podem agendar no Sisreg (Sistema de Regulação)”, explicou a Alves.

 

O acompanhamento inclui uma equipe multidisciplinar, com fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista, além de exames de pré e pós-operatório, tudo feito no hospital.

 

“Ele (paciente) faz o ambulatório na terça e quinta-feira, agendado pelo Sisreg. Fazemos a triagem da criança, exames pré-operatórios, a cirurgia e o pós-operatório, tudo aqui. Mas isso começou esse ano. Antes eles vinham das policlínicas e agora conseguimos centralizar”, completou o diretor.

 Fotos:DIVULGAÇÃO/Acervo familiar