Médica da FCecon é reconhecida como paliativista
A Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou, em dezembro de 2012, os nomes dos 44 primeiros médicos reconhecidos como paliativistas e a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon) teve uma de suas profissionais na lista: a anestesiologista Mirlane Guimarães Cardoso, gerente do Serviço de Terapia da Dor e Cuidados Paliativos da instituição – STDCP -, o qual é referência em toda a região Norte e que tem 70% dos pacientes em tratamento com doença em estado avançado.
Oficializado em 1997, após a direção do hospital, à época, identificar a necessidade da assistência em cuidados paliativos aos pacientes com câncer avançado, o trabalho realizado pela equipe multidisciplinar do serviço também é reconhecido como assistência solidária, uma vez que oferece suporte para a família do portador da doença e o auxilia a viver ativamente, promovendo o alívio da dor e outros sintomas peculiares nos casos mais agravados ou que não possuem mais possibilidade de tratamento.
“Para mim, que desde 1991 trabalho com pacientes oncológicos, e que ao longo dos anos passei a conhecer suas necessidades bio-psico-sociais na busca da saúde plena e de uma melhor qualidade de vida remanescente e de morte, sei que só através de Serviço de Cuidados Paliativos atento a uma filosofia de assistência global por meio de equipe multiprofissional, poderemos suprir essas necessidades. Portanto, esse reconhecimento é gratificante e ao mesmo tempo estimulante para mim, que como médica, aprendi com esses pacientes que o ato de paliar é igualmente importante quando o curar não é mais possível”, explica a médica.
Mirlane, que é formada em medicina pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e tornou-se especialista em anestesiologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ressalta que, ao contrário do que já acontece há cerca de 40 anos na Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Uruguai, onde a medicina paliativa é reconhecida como especialidade médica, no Brasil, até pouco tempo, havia várias barreiras para a implantação de uma política de Cuidados Paliativos efetiva e integrante em políticas públicas de saúde.
Contudo, um trabalho articulado entre sociedades médicas e Câmara Técnica de Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos no Conselho Federal de Medicina (2006), através de uma Resolução, definiu os Cuidados Paliativos como área de conhecimento médico e reconheceu a prática da Medicina Paliativa no Brasil.
Em seguida foi criado um Comitê de Medicina Paliativa na Associação Médica Brasileira (AMB), com a intenção de propor o reconhecimento não como uma especialidade médica, mas sim como área de atuação do médico.
Finalmente, em julho de 2012, a AMB lançou o primeiro edital de convocação do exame de suficiência para obtenção do certificado de área de atuação em medicina paliativa para os portadores de Título de Especialista em Anestesiologia, Pediatria, Cancerologia, Clínica Médica, Geriatria, Medicina de Família e Comunidade.
“O resultado final da prova com os primeiros médicos brasileiros paliativistas, de fato e de direito, foi então divulgado no site da AMB neste final do ano 2012 (dia 17). Fiquei muito feliz por constar na lista e fazer parte desta história”, comenta a médica.
Funcionamento
De acordo com a gerente do Serviço de Terapia da Dor e Cuidados Paliativos da FCecon, os pacientes podem ser encaminhados pelo corpo clínico em qualquer fase da evolução da doença, onde a dor é um sintoma de difícil controle, para que ele receba assistência da equipe no Ambulatório de Dor, que por sua vez, funciona de segunda a sexta-feira com consultas pré-agendadas com anestesiologistas com certificação no tratamento da dor, psicólogo, fisioterapeuta e assistente social quando necessário.
“Em pacientes com câncer avançado que, independentemente de terem realizado algum tratamento antitumoral, tiveram a possibilidade de cura esgotada, o foco da atenção é voltado para o controle dos sintomas desconfortáveis e melhoria da qualidade de vida remanescente dos doentes. Neste caso, eles podem ser encaminhados pelo Corpo Clínico para o STDCP que, após avaliação e orientação multidisciplinar baseada nas normas e rotinas do Serviço, podem passar a receber assistência no Ambulatório de Cuidados Paliativos, na enfermaria e, na grande maioria dos casos, em domicílio”, explica Mirlane.
As visitas domiciliares levam em consideração dois critérios: a condição clínica do doente e o endereço de acordo com as seis zonas da capital. “Portanto, essa frequência é variável, podendo ser semanal, quinzenal ou superior a isto”.
Com uma média diária de 32 atendimentos (20 no Ambulatório da Dor, 5 no de Cuidados Paliativos e 7 visitas domiciliares), este serviço específico da FCecon tem pacientes com idade entre 20 e 90 anos.
Além dos profissionais já citados acima, o Serviço de Terapia da Dor possui em sua equipe anestesiologistas com área de atuação em dor e medicina paliativa, dor e acupunturista, clínico geral, enfermeira, capelã, técnica de enfermagem e estagiários, os quais se empenham diariamente em proporcionar a melhoria de vida dos pacientes.
“Particularmente, espero que os Cuidados Paliativos, que englobam valores científicos e éticos, sendo uma medicina mais de princípios do que protocolos, sejam vistos como uma forma solidária de assistência integrada no sistema de saúde público no nosso país e que o fato de um paciente estar em condição de incurabilidade, não signifique que não haja mais nada a ser feito à luz do conhecimento”, concluiu Mirlane.