Ministro abre discussão sobre malária na Amazônia

O ministro da saúde, Agenor Álvares, em visita a Manaus nesta terça-feira (24) reafirmou que o controle da malária na Amazônia é questão prioritária. Ele abriu o 14º Encontro Nacional de Avaliação do Programa de Controle da Malária, no hotel Da Vinci, defendendo a ampliação de ações cooperadas entre níveis e setores do poder público e da sociedade para vencer os índices elevados da doença no país. “A saúde exige ação solidária. Todos que desenvolvem ações de impacto na saúde devem ser chamados. A intersetorialidade é a questão mais importante neste momento”, afirmou.

Para uma platéia formada por representantes dos Estados da Amazônia Legal, responsável por 99% da malária do país, Agenor Álvares pediu empenho na continuidade das ações de controle da doença. Oito dos nove estados que compõem a região reduziram os índices de adoecimento. “Mesmo assim, os números ainda são elevados e estão concentrados em municípios onde a situação permanece crítica”, disse.

Dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica, apresentados pelo secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta, mostraram que em 60 municípios, que representam apenas 7,4% do total da Amazônia Legal, estão 80% dos casos de malária. Três cidades – Manaus, Cruzeiro do Sul e Porto Velho – concentram 25% dos registros da doença. “Temos que mudar este cenário”, cobrou o ministro.

Agenor Álvares afirmou que o Ministério da Saúde está reforçando a infra-estrutura para ações de controle da doença. Desde o ano passado estados e municípios estão recebendo veículos e equipamentos de acordo com a necessidade de cada local. Ele também disse que o Ministério da Saúde está estudando a ampliação dos recursos para manejo ambiental. Os atuais R$ 12 milhões devem subir para R$ 40 milhões no próximo ano. A verba será destinada à limpeza, saneamento e criação de condições ambientais desfavoráveis à reprodução do mosquito transmissor da malária.

Para o ministro é preciso agora maior articulação com outros setores. “Todos que desenvolvem ações de impacto na saúde devem ser chamados”, afirmou. Segundo ele, o envolvimento com áreas de meio ambiente e desenvolvimento agrário são indispensáveis. “Não é possível, por exemplo, pensar em projetos de desenvolvimento econômico em áreas amazônicas sem estudar os impactos na saúde da população”, disse.

Dentre os avanços conseguidos pelo programa nacional de malária, o ministro destacou o aumento da busca ativa (visitas casa a casa para identificação de pessoas com suspeita da doença e diagnóstico precoce) e rapidez no diagnóstico – 50% dos casos são descobertos nas primeiras 48 horas após a infecção.

Amazonas quer maior controle em áreas
Indígenas e de assentamento

Representando o governador Eduardo Braga na abertura do Encontro, o diretor presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Evandro Melo, mostrou que os casos de malária tiveram redução de 23% no Amazonas entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Na capital, a queda foi de 40%. Em áreas indígenas e assentamentos, no entanto, os números aumentaram nos últimos anos e já representam, juntos, 15% do total dos casos no Estado. Até setembro, o Amazonas registrou 137 mil casos de malária, o que representa 33% do total notificado na Amazônia Legal.

Evandro apontou a redução da malária em aldeias indígenas e locais de assentamento como prioridade do programa estadual. De acordo com ele as parcerias iniciadas em 2005 com órgãos de controle ambiental e de apoio à saúde indígena serão intensificadas e haverá maior cobrança dos resultados. “Conseguimos reverter a tendência de crescimento da malária no Estado e agora estamos criando as condições para um declínio sustentável. Isso inclui ações pontuais e estratégias diferenciadas para situações especiais” argumentou.

Até agosto deste ano foram registrados quase 11 mil casos de malária em aldeias. A FVS estabeleceu acordo com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), responsável pela saúde indígena, visando o monitoramento ambiental (combate ao mosquito transmissor da doença) e a implantação de um sistema de diagnóstico mais rápido e eficaz. “Embora não seja atribuição do Governo do Estado, queremos auxiliar neste controle porque dele também depende a redução geral da malária no Amazonas”, disse Evandro. Os resultados são esperados para o próximo ano.

Em relação aos assentamentos, o diretor garantiu que o Amazonas foi pioneiro na articulação entre os órgãos de saúde, meio ambiente e desenvolvimento agrário. Ele explicou que o desmatamento e assentamento de pessoas nos limites da floresta terão controle sistemático, a partir de 2007. Planos de atividades terão que ser elaborados pelo Incra. A medida é semelhante a que foi adotada para novos empreendimentos em áreas urbanas e atende a normas federais já estabelecidas pelos ministérios da Saúde e Desenvolvimento Ambiental e, ainda, pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente. Elas cobram a elaboração de estudos de impacto e risco para a transmissão da malária. “Estamos exigindo que as regras sejam, de fato, colocadas em prática”. Foram firmados convênios de cooperação técnica com o Ipaam e a Semma para a implementação das resoluções.

Nos assentamentos, o governo do Estado também está implantando postos para diagnóstico e distribuição dos medicamentos. “Mas os planos de controle devem anteceder o tratamento”, afirma o diretor técnico do órgão, Bernardino Albuquerque. De acordo com ele, nos assentamentos houve redução de 37% da malária neste ano, mas os números ainda preocupam. Foram 7,8 mil notificações de janeiro a agosto, 6,2% do total de casos registrados no Estado.

Manaus reduz malária em 40%

Manaus, que responde por cerca de 25% do total de registros de malária do Estado, reduziu em 40% os casos da doença em 2006. Na região do Tarumã, BR 174 e localidades fluviais do Rio Negro (zona Oeste), onde ocorre mais da metade dos casos da capital (54%) houve 35% de redução nas notificações.

Nos bairros da zona Leste, lago do Puraquequara e Rio Amazonas até Rio Preto da Eva e Itacoatiara, onde a concentração é de 31% do total de casos, a redução foi de 38%.

Para o diretor presidente da FVS, Evandro Melo, as reduções em Manaus são o resultado de ações desenvolvidas em várias áreas. Além da ampliação da rede de diagnóstico e tratamento, o manejo ambiental, desenvolvido em parceria com a prefeitura de Manaus, teve impacto na redução da malária na área urbana, segundo ele.

A atividade complementa outras medidas de controle do mosquito. Na capital e no conjunto dos municípios que respondem por 80% da malária, 49 mil casas receberam borrifação intradomiciliar e outras 224 mil foram protegidas pela aplicação de inseticida nas áreas externas.

Em 25 municípios as ações são de responsabilidade municipal. Nos outros, inclusive Manaus, o Estado é o responsável pelo controle. Eles ainda estão em processo de adequação para a certificação, concedida pelo Ministério da Saúde, para o controle de endemia.

Ministro da Saúde entrega
equipamentos ao Adriano Jorge

Além de abrir o 14º Encontro Nacional de Avaliação do Programa de Controle da Malária, o ministro da Saúde, Agenor Álvares, entregou oficialmente, ontem, novos equipamentos para a Fundação Hospital Adriano Jorge. O material, no qual foram investidos R$ 2 milhões, será utilizado no centro cirúrgico da instituição e na Unidade de Terapia Intensiva. São bisturis elétricos, mesas cirúrgicas maquê – produzidas na Alemanha e amplamente utilizadas em grandes hospitais dos Estados Unidos e Europa -, respiradores, artroscópios e cardioversores.

O repasse dos equipamentos faz parte de um convênio assinado no ano passado entre os governos Federal e Estadual com o objetivo de impulsionar os procedimentos cirúrgicos realizados no Adriano Jorge.

A assinatura do convênio – Protocolo de Cooperação Técnica referente ao Programa Suport -, permite integração entre o Adriano Jorge e o Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into), em assessoramento técnico e ações de média e alta complexidade. O acordo já permitiu a realização de três mutirões de cirurgias ortopédicas. Mais de 250 pessoas que aguardavam o tratamento fora de domicílio foram atendidas. “Estamos trabalhando para garantir a realização das cirurgias, mesmo as mais complexas em Manaus”, disse o diretor do Hospital, Mauro Lippi.