MS e Susam começam a investigar casos de hantavirose no AM
Eles serão os responsáveis pela implementação de estudos ecológicos, epidemiológicos e ambientais para conhecer as espécies de roedores silvestres da região, do ecossistema, além de determinar a fonte de infecção.
Em coletiva realizada ontem à tarde, o coordenador de doenças emergentes do MS, médico veterinário Mauro Elkhoury, explicou que diferentemente do hantavírus que acomete a Ásia, onde há comprometimento do sistema renal, nas Américas o vírus atinge o sistema respiratório (pulmão). “Aqui no Amazonas, onde tivemos três casos confirmados sem nenhum óbito, o trabalho de investigação abrangerá duas linhas. A primeira linha é o trabalho com o ser humano para detectar casos suspeitos ou confirmados precocemente, e segunda linha tem como foco o reservatório, ou seja, o rato silvestre que transmite o vírus”, disse Mauro.
O médico disse ainda que todos os técnicos irão trabalhar no sequenciamento genético do vírus. “Iremos trabalhar a epidemiologia molecular do vírus aqui no Amazonas. Os ratos silvestres já existem há mais de cinco milhões de anos e precisamos identificar qual o tipo de vírus existente aqui. No Brasil já identificamos cinco tipos”, disse.
A gerente de vigilância epidemiológica da Susam, Gina Aguiar explicou ainda que os transmissores do Hantavírus são roedores silvestres, também conhecidos como ratos do mato que, teoricamente, não vivem em ambientes urbanos. Eles vivem, em média, dois anos e, se contaminados, transmitem o vírus ao longo de toda a vida, tanto para outros indivíduos da mesma espécie, como para seres humanos. No Brasil, existem aproximadamente 600 espécies de roedores nativos.
“A transmissão do Hantavírus para humanos se dá por meio de excrementos como fezes, urina e saliv, que, se inalados ou em contato com partes do corpo onde existam cortes, transmitem o vírus para a corrente sanguínea, o que pode causar diversas síndromes de angústia respiratória”, disse Gina Aguiar. A mais prevalente no continente americano é a Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus, registrada pela primeira vez nos Estados Unidos em 1993, mesmo ano em que o Brasil registrou o primeiro caso, em São Paulo. No país, 268 pessoas foram infectadas pelo Hantavírus nos últimos 10 anos.
A gerente disse ainda que os sintomas inicias da Síndrome Cardiolpumonar por Hantavírus são inespecíficos. No geral, o paciente apresenta febre, fraqueza, dor no corpo e dificuldades respiratórias, sintomas que podem ser confundidos com uma série de outras doenças, comprometendo o tratamento. “O paciente com Hantavirose não pode, por exemplo, ser super hidratado, como indicado em outras patologias”. Por esse motivo, diz, é preciso que a Vigilância Epidemiológica esteja atenta, e foi o que aconteceu no Amazonas, com a suspeita oportuna da doença e a rápida confirmação de diagnóstico. Os sintomas iniciais rapidamente podem evoluir para um quadro respiratório grave, com edema pulmonar, que pode se agravar ainda mais se o paciente não for transferido para uma UTI. A Síndrome pode levar à morte em 45% dos casos.
Gina Aguiar destacou que o Hantavírus não é transmitido por ratos que vivem em ambientes urbanos como a ratazana (Rattus norvegicus), rato do retalho (Rattus rattus) ou o camundongo (Mus musculus). A transmissão se dá por contato com ratos silvestres como os do gênero Akodon e Oligorijzonnes.
Antes do Amazonas mais de dez estados brasileiros já haviam registrado casos de Hantavírus. Até o momento, o maior número de casos foi registrado no Paraná, onde 70 pessoas que desenvolviam um trabalho específico em ambiente rural foram contaminadas. O país é o quarto em número de casos no continente americano, onde já foram confirmados mais de 1.500 casos confirmados. Argentina, Estados Unidos e Chile foram os países mais afetados nos últimos 10 anos.