Mutirão de cirurgias vai atender 60 crianças

O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (Susam), assinou hoje (14/11) com o Hospital Santa Júlia, o contrato que viabiliza a realização de um mutirão de cirurgias cardíacas pediátricas em Manaus. De acordo com o secretário estadual de Saúde, Wilson Alecrim, o mutirão vai solucionar em curto prazo o atendimento de 60 pacientes infantis, portadores de cardiopatias congênitas que necessitam de procedimentos complexos não oferecidos pela rede de saúde do Amazonas.

Pelo contrato, assinado na sede do governo, na presença do vice-governador Omar Aziz, de secretários de estado e diretores de unidades estaduais de saúde, o período de realização total das cirurgias está estimado em seis meses, com uma média de 10 procedimentos por mês. O valor do contrato é de R$ 868.358,40.

Wilson Alecrim explicou que a quantidade de cirurgias do mutirão foi definida com base na relação de pacientes de zero a 12 anos atualmente inscritos no programa TFD (Tratamento Fora Domicílio) e que precisariam aguardar a oferta de leitos em outros estados. O secretário informou que inicialmente serão realizados cerca de 15 procedimentos diferentes, com riscos e níveis de complexidade distintos, classificados em três grandes grupos.

As cirurgias serão agendadas pelas equipes médicas do Hospital Santa Júlia e por uma comissão especial formada pela Susam para avaliar a prioridade clínica dos casos. “Vamos abreviar o tempo de atendimento dos pacientes que aguardam o agendamento em outros estados, via Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade, coordenada pelo Ministério da Saúde”.

A fase seguinte, conforme o secretário, será dotar o Hospital Universitário Francisca Mendes das condições para a realização das cirurgias pediátricas na rotina. A unidade, onde já foi viabilizada pela Susam a realização de cateterismos para diagnóstico e tratamentos cardíacos mais simples, vai ganhar em 2006 uma UTI pediátrica e toda a estrutura necessária para o atendimento de cardiopatias congênitas.

Alecrim também destacou que a transferência dos pacientes com cardiopatia congênita para outros estados do país vem sendo feita regularmente, embora a demanda não possa ser atendida completamente em curto prazo. Somente em 2005, o Governo do Estado já encaminhou 123 pacientes infantis para tratamento cardíaco, incluindo sete (5,7% do total) com mandado de segurança. Outros 11 pacientes estão com internação confirmada e viajarão até o dia 19 de dezembro.

O vice-governador Omar Aziz destacou que com o mutirão, o Estado dá mais um passo para resolver um problema antigo que até o momento representava um gargalo na saúde pública. “Apesar do Estado ser o que mais investe recursos próprios na saúde, com um orçamento que este ano vai passar de R$ 1 bilhão, ainda temos questões complexas a resolver”, disse.

Cirurgias em adultos – Os pacientes adultos que precisam de cirurgias cardíacas também poderão contar com o Hospital Santa Júlia. O secretário Wilson Alecrim anunciou, ontem, que o atual contrato firmado com o hospital deve sofrer um acréscimo de 25% para que sejam atendidos até cinco pacientes adultos por mês. A medida vai complementar a oferta do Hospital Francisca Mendes, único que no momento realiza o procedimento pelo SUS.

Santa Júlia está dotado da estrutura necessária

O diretor presidente do Hospital Santa Júlia, Edson Sarkis Gonçalves, informou que a unidade hospitalar já está estruturada para a realização das cirurgias cardíacas pediátricas, com ambientes físicos, equipamentos e equipes médicas capacitadas. O Hospital tem um centro cirúrgico com seis salas equipadas com aparelhos de última geração, uma UTI neonatal e pediátrica com 12 leitos, serviço de hemodinâmica (para realização de cateterismos de diagnóstico e terapêuticos), diagnóstico avançado por imagem, como ecocardiograma, eletrocardiograma e tomografia computadorizada, agência transfusional, e serviço de neonatologia e pediatria com plantão 24 horas.

As cirurgias serão realizadas por duas equipes, sob o comando dos cirurgiões cardíacos Eólo Alencar e Fausto Pina, e Mariano Terrazas, todos com ampla experiência neste tipo de cirurgia. Em média, segundo Edson Sarkis, cada cirurgia deverá envolver de 10 a 12 profissionais de nível superior (anestesista, cardiopediatra, perfusionista e outros), além de auxiliares e técnicos, chegando a 30 pessoas envolvidas na fase pré, trans e pós-operatória.

O diretor explicou que o tempo de realização de cada cirurgia varia de acordo com o tipo e a complexidade dos procedimentos, mas em média a operação dura entre quatro e cinco horas. Em seguida, o paciente permanece entre três e quatro dias na UTI, onde é monitorado por equipes de médicos e enfermeiros intensivistas e mais cerca de 10 ou 15 dias em apartamento, onde recebe o acompanhamento em nutrição, neuropediatria, fisioterapia e nefropediatria, entre outras especialidades.

Alto Risco – As cirurgias cardíacas pediátricas, segundo Edson Sarkis, são consideradas os procedimentos mais complexos e de maior risco na área cirúrgica. Os custos são cerca de 150% maiores que os das cirurgias em adultos e os índices de mortalidade são altos. “Em cardiopatia congênita a única alternativa é a cirurgia, mas é importante esclarecer que os riscos existem e são bastante elevados dependendo da complexidade do caso”.

Para Edson Sarkis o mutirão de cirurgias pediátricas será um marco para o Amazonas, que ainda não realizava este tipo de procedimento na rede pública e privada. “O Estado passa a ser dotado de um serviço altamente especializado, impulsionando o crescimento dos profissionais envolvidos direta e indiretamente nos procedimentos, além de toda a estrutura de apoio”.