Mutirão salva agricultora em Tefé

Uma vida salva, a da agricultora Elizângela Rodrigues de Almeida, 30, que corria risco de morte devido a uma gravidez tubária rôta e tinha pouco menos de duas horas de vida, 62 cirurgias diversas, além de 38 exames de endoscopia digestiva em pacientes de cinco municípios e oito comunidades. Este foi o saldo do segundo mutirão de Cirurgias promovido pela Secretaria de Estado da Saúde (Susam), em Tefé, a 525 quilômetros de Manaus, no último final de semana.

O secretário executivo adjunto da capital Raymison Monteiro de Souza, cirurgião com mestrado em cirurgia cardíaca e chefe da equipe de seis profissionais – cinco médicos e uma enfermeira – que se deslocou a Tefé na sexta-feira, disse que a ação de saúde superou as expectativas, uma vez que foram feitos 62 procedimentos cirúrgicos ao invés dos 30 previstos, além de outros procedimentos complexos. A maior parte das cirurgias se destinou à correção de problemas de hérnia, cisto, vesícula, mioma e líquido preso na bolsa escrotal.

No geral, foram atendidos pacientes residentes em Alvarães, Uarini, Jutaí, Maraã e Tefé, além das comunidades de Marajaí, Caiambé, Santo Antônio do Papaçú, Vila Sião, Barreira da Missão, Curupira (Agrovila), Missão e Tamaniquá.

“A chegada da equipe em Tefé contribuiu para salvar vidas que estavam sofridas e ajudar na formação de novos profissionais que não atenderão somente as classes elitizadas do Estado mas, principalmente, todos os carentes da Amazônia´´, disse ele.

População de Santo Antônio do Içá é a próxima beneficiada

As cirurgias foram realizadas no Hospital Regional, que conta atualmente com 100 leitos, mas vai ganhar outros 30 após a conclusão das obras de ampliação daquela unidade de saúde. De acordo com o diretor da unidade, Braz Santos, o hospital foi inaugurado em julho de 2004 e oferece toda a estrutura necessária para procedimentos cirúrgicos. São 14 leitos para cirurgia geral, 21 para clínica geral, 10 para clínica médica, 14 para clínica obstétrica e outros 40 destinados à clínica pediátrica e isolamento.

Integraram a equipe médica do mutirão os cirurgiões Sidney Chalub (Aparelho Digestivo), Menandro Tapajós Leite (endoscopista), Marcelo Rezende Monteiro (médico residente em cirurgia geral), José Fernando Falcão (anestesiologista), Marivaldo Antônio Araújo da Costa (instrumentador cirúrgico) e a enfermeira Carmelita Alves.

De acordo com a secretária executiva de Assistência ao Interior, Heliana Feijó, a etapa seguinte do mutirão de cirurgias do interior será realizada no próximo fim de semana em Santo Antônio do Içá. O mutirão foi iniciado em fevereiro, no município de Eirunepé, onde 37 cirurgias foram realizadas, além de outros procedimentos e exames médicos.

Elizângela está se recuperando

Internada há quatro dias no hospital regional de Tefé, a agricultora Elizângela Rodrigues de Almeida, 30, não tinha mais esperanças de viver. Ela, que já havia perdido o filho devido a uma gravidez tubária rôta – a criança é gerada fora do útero, numa das trompas que se rompe, ocasionando sangramento – não acreditou quando foi levada, às 9h55 de sexta-feira passada, para o centro cirúrgico.

Ali, já a esperavam, às 9h56, os cirurgiões Raymison Monteiro e Sidney Chalub que haviam desembarcado no município às 9h20. “Ela estava no lugar certo e na hora certa´´, disse Chalub. A cirurgia durou cerca de 1h10. Elizângela, segundo Chalub, teve o feto e uma das trompas retirada, a esquerda, que se encontrava rompida. “Mas ela ainda vai poder ter filhos, se quiser“, garantiu.

No sábado, às 9h11, a filha caçula de Iza Almeida, 48, descia com dificuldade do leito e ensaiava seus primeiros passos para uma nova vida ao se dirigir ao banheiro. “Vou tomar um banho´´, disse, ao exibir um sorriso tímido num rosto pálido devido a grande quantidade de sangue perdida.

Segundo o anestesiologista Fernando Falcão, a agricultora perdeu entre dois a quatro litros de sangue, quando a quantidade existente num ser humano varia entre cinco a sete litros. “ Tivemos que repor sete bolsas, o equivalente a 3,5 litros de sangue´´, disse Falcão.

Já no domingo, antes da equipe retornar à Manaus, os cirurgiões fizeram uma visita à ela que os recebeu, sentada no leito, rosto corado, um sorriso largo e uma observação na ponta da língua: “Pensei que os doutores não viessem mais me ver antes de irem embora. Obrigado a Deus e a vocês“, disse.