Norte discute planos para reduzir desnutrição
As zonas rurais da região Norte, assim como o semi-árido nordestino, apresentam índices de desnutrição infantil superiores à média nacional. Nessas regiões, em torno de 7% das crianças menores de cinco anos apresentam problemas decorrentes da má nutrição, incluindo anemia e hipovitaminose A. Com a meta de reduzir esses índices pela metade dentro dos próximos dois anos, coordenadores de Alimentação e Nutrição, Atenção Básica e Saúde da Criança dos estados do Norte, participam do Seminário para Intensificação das Ações de Redução da Desnutrição Infantil, onde discutem o assunto com técnicos do Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Unicef. O encontro foi aberto nesta segunda-feira (15), com a participação dos secretários de saúde do Amazonas, Wilson Alecrim, e de Manaus, Jesus Pinheiro.
A coordenadora nacional da Política de Alimentação e Nutrição, Ana Beatriz Vasconcelos, disse que combater a desnutrição é prioridade e que os planos estaduais devem contemplar ações adequadas à realidade de cada um deles. “Estamos trabalhando no âmbito da saúde, com o olhar voltado para as possibilidades concretas de melhoria das condições de vida”, disse. Segundo ela, embora, a desnutrição seja o resultado de múltiplos fatores sociais, econômicos e até culturais, é possível melhorar o perfil nutricional da população com medidas que dizem respeito aos cuidados gerais com a saúde.
A consultora nacional da Unidade Saúde da Família e Segurança Alimentar e Nutricional da Opas, Zuleica Portela, disse que a desnutrição está relacionada a doenças e à pobreza e que é mais freqüente entre famílias das classes D e E, que têm as mães como chefes (portanto, trabalham fora) e onde falta esclarecimento sobre educação dos filhos. Mas mesmo na pobreza, segundo a consultora, é possível reduzir significativamente a desnutrição com medidas como o incentivo ao aleitamento materno até os dois anos de idade, vacinação, acesso a serviços médicos e ações educativas para cuidados e higiene dos bebês e para o preparo e seleção dos alimentos oferecidos às crianças. “Além disso, é claro, devem ser implementadas ações de aumento de renda”, destacou.
Zuleica disse que essas ações já vem sendo aplicadas no país, que conseguiu reduzir em mais de 60% o índice de desnutrição desde 1974. O estudo mais recente (Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003) acaba de ser publicado pelo IBGE, mostrando que o déficit entre peso e idade registrado em crianças brasileiras de zero a quatro anos caiu de 16,6%, registrado na década de 70 para 4,6%. “Ainda está acima do aceitável pela Organização Mundial de Saúde que é de 2,5 a 3%, mas com certeza representa um avanço”, comenta Ana Beatriz Vasconcelos. Nas áreas rurais, a situação é mais delicada, embora os avanços tenham sido maiores: os índices foram reduzidos de 20,7% para 5,6% nas últimas três décadas.
O Norte e o Nordeste do país continuam sendo as regiões com mais crianças desnutridas: 6,7% e 5,4% respectivamente. O secretário municipal de saúde, Jesus Pinheiro, destacou durante a abertura do seminário que historicamente essas regiões foram desfavorecidas em relação a investimentos federais na área se saúde e ao desenvolvimento social. “A desnutrição é o reflexo deste quadro”, apontou.