Susam está criando os primeiros SRTs
A Secretaria de Estado da Saúde (Susam) está definindo o local de implantação do primeiro Serviço Residencial Terapêutico (SRT), que funcionará em Manaus para abrigar os primeiros oito usuários do sistema de saúde mental que deixarão o Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, onde se encontram internados há vários anos. O Serviço segue o modelo adotado nacionalmente e tem o objetivo viabilizar a desospitalização dos portadores transtornos mentais. Além do SRT, o Governo do Estado está criando também o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), onde equipes multidisciplinares farão o acompanhamento dos usuários residentes nos SRTs e da comunidade onde o serviço está instalada.
O coordenador estadual de Saúde Mental, Rogelio Casado, explica que atualmente 49 usuários residem no centro psiquiátrico e que todos, conforme as diretrizes nacionais de assistência à saúde mental e de acordo com suas condições clínicas, devem deixar a unidade hospitalar. “Os SRTs são residências onde os pacientes terão a possibilidade de construir o seu cotidiano”, informa Casado. Os serviços abrigam normalmente até oito pacientes que contam com o apoio de um cuidador, contratado para administrar a unidade e acompanhar o dia-a-dia do grupo, o que inclui comprar mantimentos, fazer visitas e freqüentar locais públicos.
Para viabilizar o Serviço, o Ministério da Saúde destina R$ 938,00 por usuário para a manutenção da casa, além de incluir cada um deles no programa De Volta pra Casa, por meio do qual recebem um salário mínimo para despesas em geral. Parte desses recursos substituem o que era liberado para o Estado para manter a internação hospitalar. “Um leito psiquiátrico desativado, nunca mais será reaberto”, explica Rogelio Casado. O novo sistema de atenção psicossocial prevê o tratamento sem internação e apoiado em vários serviços que funcionam de forma integrada.
O CAPS é um desses serviços que servirá de referência para o atendimento do usuário de saúde mental, fora do hospital. Profissionais desta unidade irão acompanhar os usuários e todo o sistema de saúde deverá ser usado pelos portadores de saúde mental como são utilizados pelos demais cidadãos. Além disso, o Governo do Estado vai inaugurar o Pronto-Atendimento do Hospital Eduardo Ribeiro. A unidade vai funcionar 24 horas, para atender usuários que necessitam de atenção psiquiátrica de forma ambulatorial e para internação de curta duração (até 72 horas).
De acordo com Casado, a implantação dos SRTs é um desafio ao preconceito . “O serviço só representará de fato algo positivo se for abraçado por toda a coletividade”. Para ele, será necessário superar os mitos de que “lugar de louco é no hospício” e de que “uma vez louco, sempre louco”. Essa é uma grande mudança de modelo, diz. Casado lembra que a lógica da cura é diferente para os portadores de saúde mental. “Trabalhamos para a redução do sofrimento humano”.
Rogelio Casado explica que os transtornos mentais estão associados especialmente às neuroses, psicoses e perversões, cujas manifestações podem ser controladas, mas não necessariamente curadas. “Com acompanhamento adequado, o portador pode conviver harmoniosamente no meio social e não há porque rejeitá-lo”. Ele informa que os que sofrem de transtornos mentais não representam risco para a sociedade. “Índices mundiais mostram que apenas 0,08% das pessoas nestas condições são capazes de cometer delitos graves”.
Além do primeiro SRT e da instalação do CAPS, a coordenação Estadual de Saúde Mental vai contar com um musicoterapeuta para complementar as atividades já desenvolvidas junto aos usuários, por meio de uma parceria com a Secretaria de Estado da Cultura (SEC).