Susam investiga casos de rabdomiólise

O secretário de Estado da Saúde, Agnaldo Costa, descartou ontem, durante coletiva de imprensa na sede da Secretaria a recomendação de que o consumo de peixe, em especial o pacu, deva ser suspenso pela suposta relação do pescado com a ocorrência de casos de rabdomiólise, doença que tem como principal sintoma dores musculares.

De acordo com o secretário, a doença é comum, mas nos últimos três meses dos 37 casos registrados nas unidades de saúde, 27 não tiveram a causa definida e estão sob investigação. “Os alimentos, e aqui está incluído o peixe, devem ser considerados no processo de investigação, assim como outros fatores, mas nada está confirmado até o momento”, esclareceu.

Agnaldo Costa informou que a investigação está sendo conduzida pela Fundação de Vigilância em Saúde, por meio do Núcleo de Resposta Rápida. O diretor presidente da FVS, Evandro Melo, disse que estão sendo feitos exames e estudos de ‘caso controle’, ou seja, comparação entre doentes e não doentes que estiveram expostos às mesmas condições ambientais e de alimentação nas 24 horas que antecederam o surgimento dos sintomas. A investigação está sendo acompanhada pelo Ministério da Saúde e não há prazo estipulado para a conclusão dos trabalhos.

Ele disse que alguns pacientes relataram ter consumido peixe antes de adoecer, mas pode ser apenas uma coincidência, uma vez que o peixe é a principal fonte de proteína nesta região. O secretário reafirmou que a relação entre o pescado e a doença é uma de várias hipóteses. “Temos um percentual muito alto da população que consome peixe regularmente, no entanto, não tivemos epidemia”, avaliou. Neste momento, segundo ele, não há medida de controle a ser recomendada.

O infectologista Marcelo Cordeiro, coordenador do Núcleo de Resposta Rápida da FVS, explicou as investigações estão sendo feitas porque grande parte dos casos registrados nas unidades de saúde de junho a setembro não teve a causa definida. Segundo ele, a rabdomiólise não é uma doença de notificação compulsória. O monitoramento realizado pelo Núcleo identificou, por meio de contato com os profissionais dos hospitais e pronto-socorros, que estavam ocorrendo casos sem associação com as causas clássicas e deu início às investigações.

De acordo com Marcelo a rabdomiólise é uma síndrome que decorre da lesão de células da musculatura, causando principalmente dores musculares (mialgia). A pessoa acometida, além da mialgia, pode apresentar fraqueza, mal estar, rigidez muscular e urina escura.

Marcelo Cordeiro informou que nos Estados Unidos ocorrem anualmente cerca de 26.000 casos de rabdomiólise. “É uma doença comum que está ligada a diversas causas como algum traumatismo, atividade física excessiva, crises convulsivas, consumo de álcool e outras drogas ou infecções”. Segundo o médico, as pessoas que adoecem normalmente são saudáveis.

O diagnóstico definitivo de rabdomiólise é realizado através de estudos laboratoriais. O tratamento é feito principalmente com hidratação e a doença dura entre três e cinco dias. Como complicação, o paciente pode desenvolver problemas renais e o tratamento visa basicamente a prevenção.
Marcelo destacou que todos os casos atendidos pela rede de saúde evoluíram para a cura, sem seqüelas ou qualquer outro tipo de problema. Todos os casos foram atendidos em Manaus, embora tenham sido atendidos pacientes vindos de Iranduba e Itacoatiara.

Leia na íntegra Nota Técnica elaborada pela Fundação de Vigilância em Saúde:

NOTA À IMPRENSA

Em face de notícia vinculada por alguns órgãos de imprensa local de que peixes regionais estariam causando doença, a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) esclarece:
1. A FVS monitora continuamente a ocorrência de doenças no Estado. Nas últimas semanas, informalmente, alguns profissionais de saúde de determinadas unidades de urgência e emergência da capital perceberam um aumento do número de atendimentos de pacientes com o diagnóstico de rabdomiólise.
2. A rabdomiólise é definida como uma síndrome que decorre da lesão de células que compõem a musculatura, causando principalmente, dores musculares (chamada no meio médico de mialgia). O indivíduo acometido, além da mialgia, pode apresentar fraqueza, mal estar, rigidez muscular e urina escura. Nos Estados Unidos ocorrem anualmente cerca de 26.000 casos de rabdomiólise. Portanto, é uma entidade comum e, não raras vezes, de múltiplas causas. Acomete normalmente indivíduos saudáveis, na seqüência de algum traumatismo, atividade física excessiva, crises convulsivas, consumo de álcool e outras drogas ou infecções. O diagnóstico definitivo de rabdomiólise é realizado através de estudos laboratoriais. Quanto ao tratamento, a hidratação endovenosa agressiva e precoce é a medida terapêutica mais importante. Como complicação, o paciente pode desenvolver problemas renais e o tratamento visa basicamente prevenir a mesma.
3. A investigação epidemiológica desses casos identificou que alguns pacientes acometidos, aparentemente, não apresentam um motivo para desenvolver rabdomiólise, como por exemplo, abuso de álcool, atividade física excessiva, etc. Portanto, faz-se necessário, uma investigação de maior profundidade com o objetivo de se esclarecer esse evento.
4. A literatura científica indica que, muito raramente, a rabdomiólise pode ocorrer por exposição ou ingestão de substâncias tóxicas. São relatados casos após consumo de aves, vegetais e peixes.
5. De junho a setembro deste ano, 37 casos de rabdomiólise foram identificados (um pouco mais de dois casos por semana), sendo que em 10 pacientes, foram identificadas causas específicas, das mais diversas, como atividade física excessiva, abuso de álcool, etc. Os 27 casos restantes estão sob investigação, sem que até o momento fosse possível se determinar a causa. Alguns pacientes foram internados, por poucos dias, e NENHUM evoluiu com complicações.
6. Dentre várias hipóteses, a relação entre o consumo de determinadas espécies de peixe e a ocorrência de rabdomiólise é uma das consideradas. No entanto, à luz do conhecimento atual, não existe nenhum respaldo técnico-científico que possa subsidiar a recomendação do não consumo de qualquer espécie de peixe da região.
7. A Fundação de Vigilância em Saúde, vem desenvolvendo trabalho no sentido de esclarecer a etiologia desses casos e com certeza cumprirá seu compromisso com a saúde pública deste Estado, caso tenham evidências concretas na definição de qualquer condição de risco à saúde da população.

Manaus, 09 de outubro de 2008

ANTÔNIO EVANDRO MELO DE OLIVEIRA,
Diretor-Presidente da Fundação de Vigilância em Saúde.

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